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Nuno Santos a falar sobre a relação da música com o mar

Nuno Santos

Violinista

Portugal é um país intimamente ligado ao mar. A História assim o conta. E a verdade é que até aos dias de hoje permanece um elemento central na identidade de ser português. Faz parte das memórias passadas e faz parte dos sonhos futuros. Com as suas praias extensas, as falésias de cortar a respiração, as ondas que cobrem os mais de 900 quilómetros de extensão da costa portuguesa, não há como negar que o mar moldou não só a geografia de um país à volta dele como a alma do seu povo. Uma conexão histórica que ainda hoje se reflete na cultura e na forma como vemos o oceano. “Esta ligação ao mar faz parte do nosso dia a dia, da nossa cidade, do nosso país, da nossa cultura. E se deixarmos essa ligação degradar constantemente, não vai trazer nada de bom”, alertou Bernardo Queiroz, responsável pelo Mercedes-Benz Oceanic Lounge, durante as filmagens para a série documental Respeito, que aconteceram em Lisboa e na Nazaré, partindo dos dois lounges da Mercedes-Benz nestas cidades.

Nas várias conversas que fomos tendo ao longo de quatro dias intensos de filmagens, ficou bem sublinhado que a ligação especial que Portugal tem com o mar tem de estar intimamente ligada ao respeito que lhe é preciso devolver. “Historicamente, nós temos uma relação muito próxima com o mar, mas também de muito respeito”, lembra Nuno Santos, violinista que levou o projeto “Um violino nos locais mais improváveis” para o mar português – já tocou violino a surfar uma onda na Nazaré.

“Tocar violino no meio das ondas é um projeto que nasceu há muitos anos, um pouco como brincadeira. O violino foi sempre um companheiro de viagem. Algures no tempo estive a viver e a trabalhar na América do Sul, numa zona muito remota do Equador, uma reserva natural, e decidi escalar um vulcão e tocar violino no cume do vulcão. E aquilo foi uma experiência muito especial, muito transcendental. A partir daí, decidi continuar a escalar montanhas cada vez maiores e cada vez mais exigentes”, explicou o violinista português. No regresso a Portugal, encontra nas ondas as “montanhas de água”. “Eu cresci aqui à frente das maiores ondas do mundo. Naturalmente o surf já fazia parte da minha vida, o mar faz parte da minha vida. E então a ideia foi simples. Ok, vou tocar violino naquela montanha.”

O fascínio internacional com Portugal é indiscutível. A cultura, a nossa gastronomia, a qualidade das ondas é extraordinária. As pessoas não acreditam que existe um sítio ainda assim, que tenha tanta história, tantas camadas

João Macedo
João Macedo sorridente
Bernardo Queiroz sorridente enquanto observa golfinhos no Tejo

Bernardo
Queiroz

Responsável Mercedes-Benz Oceanic Lounge

No surf, na música, na literatura, na cultura, Nuno Santos lembra que “todo o País tem uma forma de celebrar o mar”. Associar o violino à água pode não ser uma ligação imeadiata para muitos, mas para Nuno Santos não podia fazer mais sentido. “Culturalmente falando, a identidade portuguesa está no fado. E o fado canta o mar. Aliás, um dos fados mais conhecidos que existe do fado português diz que o fado nasceu um dia, quando o vento mal bulia e o céu o mar prolongava. A referência ao mar está desde sempre no que é o nosso cancioneiro e no que é a nossa cultura musical”, diz.

Esta relação com o mar é por vezes vista como um dado adquirido. Nem sempre nos lembramos de que Lisboa é a única capital europeia com praia. Nem sempre nos lembramos de que o mar é o sustento de muitas comunidades costeiras. Nem sempre nos lembramos de que é necessário preservar e respeitar o mar para que “as futuras gerações possam continuar a desfrutar e a aprender com este recurso vital”, tal como nos fez pensar Nuno Sá, videógrafo subaquático, que sabiamente sublinha que “nós precisamos do oceano para sobreviver como seres humanos, mas o oceano não precisa de nós para nada”.

“[O mar] é importante para passear à beira-mar, para fazer surf, para dar uns mergulhos na praia na época balnear. Mas o mar é mais do que isso”, alerta Bernardo, cujo trabalho no Mercedes-Benz Oceanic Lounge passa por mostrar a biodiversidade que se pode encontrar nas águas portuguesas, por partilhar o “respeito enorme” que tem pelo mar, por transmitir a necessidade de criar uma consciência em relação a este “bem precioso”, porque só assim as pessoas vão “ter tendência a proteger o oceano de forma altruísta e voluntária”.

Barco semi rígido do Mercedes-Benz Oceanic Lounge

Em vez de ser ‘tens de proteger o oceano’, as pessoas dizem: eu quero proteger o oceano, porque isto faz parte da mim, faz parte da minha cidade, faz parte do meu país, faz parte da minha cultura, faz parte da minha identidade. E eu quero preservar isto

“É preciso usar o recurso mar, mas é preciso também ter conhecimento para o usar. Não podemos usá-lo de forma desmedida, de forma descontrolada e de uma forma sem responsabilidade”, alerta João Macedo, surfista português e fundador da Hope Zones Foundation. Uma posição que é partilhada por Lino Bogalho, responsável pelo Mercedes-Benz Surfing Lounge: “Este recurso não é infinito. Tem de ser cuidado, para que continue a dar como tem dado, especialmente como deu à Nazaré.” “Precisa de ser cuidado para que possa dar com a mesma intensidade e isso diz respeito a cada um de nós”, acrescenta.

Lino não fala da Nazaré por acaso. “O mar representa para a Nazaré praticamente tudo”, diz. Não fica por aqui. “Eu atrevia-me a dizer que sem mar a Nazaré provavelmente não existiria. É um cordão umbilical inseparável. Acho que ninguém consegue imaginar uma Nazaré sem mar. É inconcebível”, acrescenta. Tal como a Nazaré, são muitas as comunidades costeiras portuguesas que têm no mar a principal atividade económica, com uma ligação ao mar que é para estas comunidades um modo de vida.

“O mar é a grande matriz de tudo aquilo que é a alma nazarena. No aspeto cultural, nas tradições, o mar está sempre presente em tudo. Tudo gira na Nazaré em volta do mar. E há uma apetência natural na comunidade nazarena, seja ela mais jovem, seja ela mais adulta, de respeito relativamente àquilo que é o mar”, afirma o psicólogo Júlio Estrelinha. “Este respeito pelo mar na Nazaré faz parte do ADN de toda a população e é passado de geração em geração. E sente-se mesmo sem se falar”, confirma Lino Bogalho. Respeito esse que hoje se vê também na comunidade surfista que é cada vez maior na vila. “Hoje existe uma ligação saudável entre a comunidade surfista e a comunidade piscatória na Nazaré, porque têm uma coisa em comum, que é o respeito pelo mar. Ambos vivem dessa grandeza que é o oceano”, explica.

Lino
Bogalho

Responsável Mercedes-Benz Surfing Lounge
Lino muito sorridente a contar as suas experiências com o mar

“E ainda bem que há esta interação entre comunidade surfista e comunidade piscatória que faz um alavancar dessa temática da proteção dos oceanos, da proteção do ambiente, do todo o equilíbrio do ecossistema que nos rodeia”, diz.

Lino Bogalho refere a onda gigante da Nazaré como um marco na história do surf em Portugal, até porque “estamos a falar do spot de ondas grandes mais consistente do mundo hoje em dia”. “Se olharmos para trás e virmos a Nazaré há 14 anos, é uma diferença abismal. Existe uma Nazaré antes da onda e outra depois da onda”, diz. Hoje a Nazaré é um nome incontornável, “quer se fale da ondulação, quer do surf, a Nazaré está presente. E isso foi num curto espaço de tempo”, lembra.

Hoje a Nazaré trabalha 365 dias por ano, está exposta ao mundo globalmente. “Para terem uma noção o farol já foi visitado por 161 nações diferentes”, conta-nos Lino. “E o que acaba por ser mais interessante, na minha ótica, é que este boom é dado por um fenómeno da natureza que já cá estava há milhões de anos. Isto é o que torna tudo muito mais especial. As ondas já existiam aqui desde sempre. Como é que é possível termos estado no século XXI sem se ter dado conta disto?”, diz ainda incrédulo, apesar de ter sido uma das pessoas que acompanharam bem de perto todos este desenvolvimento do surf na Nazaré.

Imagem antiga do Nazaré Funicular
Lino Bogalho sentado no Mercedes-Benz Surfing Lounge com o seu fiel amigo de quatro patas
Garrett de prancha na mão, acabado de sair do mar da Nazaré

Garrett
McNamara

Surfista de Ondas Gigantes

Um dos grandes responsáveis por esta mudança foi Garrett McNamara. “Quando vi as grandes ondas aqui na Nazaré pela primeira vez, foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida como surfista. Cheguei à beira da falésia, olhei e vi as maiores ondas que alguma vez presenciei”, conta. “Sabíamos que a Nazaré seria a maior onda do mundo desde aquele primeiro dia, e na falta de palavras melhores, a Nazaré veio como o nosso bebé, o nosso melhor amigo e a nossa mãe”, partilha o surfista de ondas gigantes que já foi o detentor da maior onda alguma vez surfada no mundo, uma história contada na série da HBO A Grande Onda da Nazaré [em inglês, 100 Foot Wave].

“Essa ligação [com o Garrett McNamara] foi a primeira, foi a mais vinculada e foi a que pôs realmente a Nazaré no mapa do mundo do surf de ondas grandes e através disso todo o desenvolvimento que veio atrás, puxando marcas como a Mercedes-Benz que, com a criação do Mercedes-Benz Surfing Lounge, comunica tudo quanto é de interesse ligado à proteção da natureza e todo esse legado que a marca quer deixar ligado ao oceano”, explica Lino Bogalho, que apresenta o lounge no Porto da Nazaré como “um espaço físico onde toda a comunidade surfista acaba por ter acesso a poder fazer essa comunicação não só com a comunidade nazarena, mas também exportar para todo o mundo esse caminho de futuro que é o saber proteger isto que nos rodeia”.

Interior do Mercedes-Benz Surfing Lounge

Foi esse boom, essa expressão da natureza tornada visível para todo o mundo que tornou especial, e que torna ainda hoje especial, o carinho que se tem pelo Garrett. Se perguntarmos ondas da Nazaré, o que é que diz? Garrett McNamara

Garrett não poupa nos elogios às ondas nazarenas: “A Nazaré é a onda mais poderosa e maior do mundo. Um dos lugares mais especiais para testemunhar a beleza e o poder da mãe natureza. Podes ficar de pé na falésia, ver as ondas explodir e a névoa a chegar até ti… Fazes parte da onda. Não há nada igual na Terra.”

Falando com alguém que desafiou as leis da natureza durante anos da sua vida e que ainda hoje vive para se ultrapassar dentro de água, poderíamos pensar que Garrett McNamara entra no mar como se nada fosse, achando-se invencível. Pelo contrário. “Sou apenas um grão de areia”, disse-nos.

Desde que começou a surfar, apanhou todas as ondas que quis. Aos 16 anos pensou que podia enfrentar qualquer coisa no oceano. Até que sofreu uma queda que o deixou sem andar durante quatro meses: “Ganhei respeito muito rápido. A partir desse dia, soube que não importa o tamanho da onda, não importa se tem 10 ou 30 metros, tens de respeitar o oceano.”

Vista do areal da praia da Nazaré
Garrett sentado na areia a contemplar o mar
Garrett a boiar dentro de água, a apreciar o embalar das ondas da Nazaré

O que significa a Nazaré para mim? Amor. É isso que a Nazaré significa para mim. Eu amo a Nazaré. Amo todas as pessoas da Nazaré. Amo as ondas. Amo o País inteiro. Amo Portugal como um todo, é um lugar super especial